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"Acho que finalmente me dei conta que o que você faz com a sua vida é somente metade da equação. A outra metade, a metade mais importante na verdade, é com quem está quando está fazendo isso."

07/08/2007

Perder um filho


Perder um filho, através de um aborto espontâneo ou retido, ou mesmo já na gravidez avançada, é a maior dor que uma mãe pode sentir, porque houve a interrupção do caminho natural da vida, que é gerar, gestar, parir e criar.
A vida não prosseguiu, foi abruptamente interrompida. Passar pela perda do bebê, em qualquer uma destas fases é passar pela perda de um pedaço de nós.
A dor da perda é tão imensa que não pode ser descrita, é uma imensa mistura de sentimentos, que vão da dor física à psicológica, da raiva, do rancor, à dúvida e à culpa.
A dor física acontece quando há a expulsão do bebê, são contrações iguais as do parto, porém sabe-se que o bebê não irá nascer vivo.
A dor psicológica é a que nos anestesia, nos confunde, nos dopa.
A raiva é o sentimento que se tem em relação a tudo e a todos à nossa volta, mas principalmente em relação a si mesma, a este sentimento está associada a culpa: afinal, o que fiz de errado? Eu tinha o poder de evitar o aborto?
A dúvida é causada pela indefinição dos motivos que levaram à perda. Normalmente estes sentimentos são sentidos todos juntos, causando o marasma de sentimentos.
A forma de lidar com a dor da perda depende de cada mulher, não existem regras, mas todas devem viver o luto. Luto pela morte do filho.
Somente vivendo o luto, a mulher consegue atravessar a dor e continuar a viver. Não adianta não chorar, não falar, não gritar, não desabafar. Porém nem sempre as pessoas que estão a nossa volta sabem como ouvir, o que falar e como aconselhar.
As pessoas, nestes casos, só precisam estar ao lado, se colocar ao lado, se fazer presente, amparar, abraçar; não adianta dar exemplos, fazer colocações simplistas ou religiosas do assunto, porque somente a mulher que perdeu sabe o valor que tinha este filho, e somente ela sabe o tamanho da sua dor.
Perder um filho é perder um pedaço de nós, sobreviver à perda, é o aprendizado que advém de tudo isto.

* Odete dos Santos, é Engenheira Civil, teve duas perdas gestacionais, é moderadora do grupo de apoio a perdas gestacionais “Unidas Pela Dor”, e uma das idealizadoras da ONG Projeto Ser Mãe.

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