Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos,
que se comova, quando chamado de amigo.
Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos,
de grandes chuvas e das recordações de infância.
Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer,
para contar o que se viu de belo e triste durante o dia,
dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças de água
e de caminhos molhados, de beira de estrada,
de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver,
não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo.
Precisa-se de um amigo para se parar de chorar.
Para não se viver debruçado no passado
em busca de memórias perdidas.
Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando,
mas que nos chame de amigo,
para ter-se a consciência de que ainda se vive.
Vinícius de Moraes
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