A gente se arrebenta de tanto pensar naquilo que pode estar acontecendo, sem levar em consideração aquilo que não está acontecendo. Do que é que a gente tem certeza absoluta? Apenas do lado concreto da vida: nome, RG, endereço e coisas assim, porque, no mais, é um mundo imaginado. E nossa imaginação não dá trégua.
Conversando ali e aqui, lendo uma coisa e outra, reparei que temos, quase sempre, a tendência em pensar o pior. Se um filho anda isolado demais, não nos passa pela cabeça que ele está em um momento introspectivo, querendo apenas ficar na dele. Não. É em drogas que pensamos em imediato, e se formos atrás de indícios, nossa cabeça voltará no tempo e se recordará da vez em que ele esteve exaltado demais, ou sorumbático demais, ou que pediu um dinheiro para assuntos pessoais, ou que trouxe para casa um amigo estranho que você nunca havia visto, e então nossa mente fechará o cerco e a gente passará a acreditar no que não sabe, não e não perguntou.
Ao sentir uma dor no peito, você já se autodiagnostica: é uma doença grave. E se for grave, vou morrer. Mas tão jovem, que desgraça. Quem cuidará das crianças, como reagirão meus pais, quem tocará o escritório, como é injusta a vida! Injusta e simplória: deve ser apenas gases.
Uma amiga foi, sem querer, ríspida com você. É o que basta. Ela talvez não goste mais da sua companhia, talvez esteja com inveja, talvez tenha sabido que você falou mal do vestido que ela andou usando, pior: talvez ela queira se afastar porque está interessada no seu marido! Bem-vindo ao esquizofrênico mundo do talvez.
Falando em marido e demais parceiros e parceiras do amor - que provação. Um celular desligado em hora que costumava ficar ligado é sinal de que alguma coisa está errada, lógico. E um atraso pode despertar toda espécie de especulações: com quem será que ficou conversando, com quem anda bebendo, o que foi que atraiu sua atenção para esquecer-se do nosso compromisso? Ninguém cogita um imprevisto.
E se a relação acabou e já há um zumzumzum de que sua ex-cara-metade tem uma outra cara-metade, aí se prepare para um tour pelo inferno. O outro (ou outra) deve ser mais bonita, deve ser mais interessante, deve ser mais inteligente. E eles devem estar viajando junto, e é provável que já tenham planos de casar, vai ver até cogitam em ter filhos! Sua imaginação já está prevendo até as bodas de ouro que eles comemorarão na Grécia, enquanto que o novo casal apenas saiu para tomar um chope e parece que nem foi muito com a cara um do outro.
Quem garante? Ninguém garante. E ninguém garantindo, a gente se arrebenta de tanto pensar naquilo que pode estar acontecendo, sem levar em consideração aquilo que não está acontecendo, e sem tampouco dar uma abertura para o positivismo: talvez (bem-vindo ao adorável mundo do talvez) os astros estejam conspirando a favor e tudo que está de fato rolando a sua volta seja tão bonito, e tão honesto
e tão bacana que você nem ousa imaginar !
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