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"Acho que finalmente me dei conta que o que você faz com a sua vida é somente metade da equação. A outra metade, a metade mais importante na verdade, é com quem está quando está fazendo isso."

29/04/2008

Término de um Afeto

O interessante nas relações amorosas, no instante em que perdem o sentido,
é a postura que assumem os envolvidos.
Raramente, o término de um afeto se dá de forma instantânea.
Demora algum tempo para que a constatação angustiante do fim se manifeste.
Angustiante porque é um prenúncio de morte, de luto, tanto o ficar como o ir embora.
E, talvez, o mais difícil seja passar a conviver com a sensação de fracasso,
de impossibilidade em conservar o que se imaginava nosso e, mais ainda,
o eventual erro na escolha feita.
Então, se chega à conclusão dolorosa de que se plantou a semente da árvore do amor
em terra árida ou se esqueceu de irrigar com constância e fidelidade.
Nesses momentos, a dimensão da situação ganha proporções de monstros devoradores.
Tudo assusta!
Ao que diz a palavra final resta o ônus da culpa (que não é culpa, é coragem).
Ao que ouve o veredito cabe o ônus da derrota (que não é derrota, é desistência).
A experiência que não deu certo, que não pode continuar sob pena de um dos dois se desfigurar
a ponto de perder a própria identidade, é tão desgastante para o que fica como para o que parte.
Preciso é reconhecer as limitações que nos impediram de crescer no relacionamento,
sem culpar o outro pela nossa falibilidade pessoal e intransferível.
No entanto, no mais das vezes, assistimos a um sem-número de acusações que,
além de não nos livrar da culpa, acentuam as nossas omissões.
Inexistem culpas em uma relação que acabou.
Colocamos no afeto a projeção de necessidades egoístas e deixamos de ver o outro.
Enxergamos só o nosso reflexo no espelho. Daí, cansados de nós mesmos,
ficamos esvaziados das riquezas que uma troca verdadeira poderia vir a nos proporcionar.
Esquecer que a vida é uma moeda de dois lados é imprudente.
No jogo de culpas vemos apenas um aspecto, o nosso.
Pomos um véu sobre as faltas que cometemos e fazemos do outro um algoz
que dilacerou nossos sonhos no cadafalso do fim.
Em ambas as faces do amor que esmoreceu, há somente a interrupção de um ciclo,
dando liberdade para que outro se inicie na complementação dos elos da existência.
Quando nos deparamos cara a cara com o conhecimento do que realmente somos,
então sim, estamos prontos para fazer germinar a semente do verdadeiro encontro.
Sabemos, enfim, das nossas restrições e do nosso ilimitado.
Adquirimos a sabedoria de regar o amor em tempo certo, dando e recebendo na medida certa,
numa cumplicidade e companheirismo que possibilitam a valentia para produzir flores
e frutos sem desconhecer a ocorrência dos espinhos, mas sabendo que junto, unidos ao outro,
somos capazes de arrancá-los.

Fonte: diariopopular

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